"Nós deveríamos ter recebido este documento [Lei Geral da Copa] assinado em 2007, estamos em 2012. Você tem que dar um empurrão, tem que receber um chute no traseiro e entregar a Copa do Mundo", afirmou o secretário-geral da Fifa, Jérôme Valcke, em março de 2012.
O "chute no traseiro" gerou um enorme mal-estar nas relações entre o governo do país e a entidade que comanda o futebol mundial.
O resultado?
Sob maior ou menor influência da crise envolvendo o Brasil e a Fifa, houve um aumento de gastos públicos nos estádios do Mundial.
Desde a polêmica frase de Valcke, proferida há um ano e meio, a injeção de dinheiro público nos estádios atingiu R$ 857,3 milhões.
O governo federal também liberou outros R$ 74,7 milhões a entidades privadas para obtenção de empréstimos em condições especiais.
Levantamento da Folha nas 12 sedes do torneio também aponta que, pela primeira vez, o custo das arenas bateu os R$ 8 bilhões.
O valor é suficiente para erguer 160 mil apartamentos do Minha Casa, Minha Vida.
Em 2007, quando o Brasil foi anunciado como sede da Copa, a estimativa era de US$ 1,1 bilhão (R$ 2,6 bilhões, segundo a cotação atual).
"A primeira causa para os estouros de orçamento e atrasos foi a falta de um projeto completamente definido", afirma José Carlos Bernasconi, presidente do Sinaenco (Sindicato da Arquitetura e da Engenharia). "Os preços fugiram do controle."
Na ocasião, governo e comitê organizador prometiam praças esportivas 100% privadas. Hoje, somente 32% dos investimentos são particulares, e essa parcela inclui empréstimos em entes públicos tomados por clubes e concessionárias de PPPs.
Em Natal, a Arena das Dunas é bancada totalmente por empréstimo do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social).
Quando o estádio ficar pronto, o governo do Rio Grande do Norte terá de fazer pagamentos mensais, por 17 anos, que vão depender do "desempenho" do local.
Caso dê prejuízo, o Estado acabará desembolsando um montante superior aos R$ 400 milhões da obra.
Em junho, em meio à onda de protestos que tomaram as ruas --muitos contra os gastos da Copa--, a presidente Dilma Rousseff utilizou pronunciamento em rádio e TV para dizer que "o dinheiro do governo federal gasto com arenas é fruto de financiamento", e que seria "devidamente devolvido".
Mas 53% desses financiamentos foram destinados a Estados e municípios. Assim, continuarão sendo pagos com recursos públicos.
"Há obras em andamento, temos problemas e dificuldades e vamos ter que correr e tomar providências. E isso pode significar mais gastos públicos", diz Bernasconi.
Em Pernambuco, o governo Eduardo Campos (PSB) diz não ter o orçamento total da obra, inaugurada há mais de quatro meses, porque foi preciso acelerar os trabalhos para a Copa das Confederações. Diz que ainda calcula o valor.
Em janeiro de 2010, os governadores e prefeitos de todas as sedes assinaram a chamada Matriz de Responsabilidades do Mundial. De lá para cá, o incremento dos gastos públicos alcançou 66%.
E, a nove meses para a bola rolar, metade das arenas ainda não foram concluídas.
Todas têm de ser entregues até o final de dezembro.
OUTRO LADO
As principais autoridades à frente da Copa-2014 se esquivam sobre o crescimento dos gastos públicos e totais das arenas do torneio.
"O Ministério do Esporte e o governo federal não têm responsabilidade direta por nenhum dos estádios que estão sendo construídos ou reformados", disse a pasta.
O ministério informou que monitora o cronograma de execução das praças "trabalhando em parceria com as cidades-sede para que a organização do evento como um todo seja exitosa".
O comunicado reforça que os empréstimos do BNDES não são investimento direto, já que serão pagos com os juros estabelecidos em contrato, e se limitam a R$ 400 milhões por arena. A pasta diz que o valor é o mesmo fixado no início das construções.
Na avaliação do ministério, os estádios "têm custos alinhados com a média mundial" e têm melhorado a média de público no Brasileiro.
"Confiamos no trabalho dos órgãos de controle, que acompanham de perto a execução orçamentária de todas as obras", afirmou a nota.
O COL (Comitê Organizador Local da Copa) segue a mesma linha. "Entregando tudo em dezembro poderemos fazer uma Copa muito melhor do que a Copa das Confederações, que foi um sucesso", disse Ricardo Trade, diretor-executivo do COL.
Sobre a indefinição do custo da Arena Pernambuco, o governo local diz que a aceleração das obras, para entrar a tempo da Copa das Confederações, impediu "reequilibrar as finanças" e que faz estudo para levantar gastos.
NELSON BARROS NETO
DE SALVADOR
LUCAS REIS
DE MANAUS
DE SALVADOR
LUCAS REIS
DE MANAUS
Fonte: UOL / Folha de São Paulo
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