Resultado da experiência se transformou no livro ‘O advogado devedor’, disponível há cerca de um mês gratuitamente na internet
NITERÓI - Com mais de 20 anos de experiência em processos envolvendo dívidas, o advogado Ronaldo Gotlib achou que ainda tinha muito o que aprender sobre o assunto. Foi aí que tomou uma decisão inusitada: viver na pele o que o seus clientes sofriam por conta da inadimplência. O resultado dessa experiência se transformou num livro, “O advogado devedor”, que está disponível há cerca de um mês gratuitamente no site .
— Nos últimos anos, percebi o crescimento de uma indústria da cobrança. São empresas especializadas em cobrar e que, geralmente, destroçam os direitos das pessoas. Mentem e enganam para faturar mais — diz Gotlib.
O seu objetivo com o trabalho é orientar as pessoas sobre os seus direitos e, assim, buscar uma melhora nas práticas de cobrança.
— Infelizmente, nós brasileiros não recebemos educação financeira. Esse é o motivo que faz com que grande parte da população se torne inadimplente. Cobrar é um direito, mas há um limite. É como aquele ditado “devo não nego, pago quando puder”. É uma realidade prevista no nosso sistema legal. Ninguém é obrigado a pagar sem recursos ou bens. Não quero estimular a inadimplência, mas, por meio da informação, promover um maior equilíbrio na relação entre devedores e credores — afirma.
Na sua experiência, ele se deparou com inúmeras distorções ao ser cobrado. Boa parte delas, enviada por escrito, seja por e-mail, carta ou SMS. Ou seja, provas que poderiam ser usadas num processo judicial.
— Uma das mensagens dizia que se eu não entrasse em contato com a empresa em algumas horas, a minha dívida seria executada. Eu sou advogado e sei que para uma dívida ser executada é preciso um trâmite que leva em média sete anos. Agora, um leigo pode ficar desesperado com algo assim — diz.
Ele ressalta que outra prática comum é a de uma empresa ser contratada para fazer uma cobrança e embutir a sua comissão na dívida, o que é ilegal.
— Uma dica que dou para um inadimplente é que peça uma planilha ao credor mostrando detalhadamente como se chegou àquele valor. Deveria ser uma coisa simples, mas não é, já que geralmente eles incluem tributos ilegais na conta sem que a pessoa saiba — explica.
Atualmente, Gotlib está no processo de regularização da sua situação, da qual não revela detalhes. Ele acha que, ao final, terá assunto para mais um livro, mostrando os desdobramentos judiciais das cobranças ilegais porque passou.
— O devedor brasileiro, em sua maioria, tem como perfil: ser trabalhador, honesto e vítima da publicidade alardeada com exagero sobre as vantagens de comprar a prazo e fazer empréstimos para sanar os problemas da vida. Medidas, como o investimento na educação financeira da população devem ser realizadas com a urgência — conclui.
Fonte: Portal O Globo
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