quinta-feira, 13 de junho de 2013

Um índio é assassinado e cinco são presos no Mato Grosso do Sul

CONFLITOS

O indígena Celso Rodrigues, da aldeia Paraguassú, Terra Indígena Takwarity/Ivykwarusu, município de Paranhos, foi morto a tiros por pistoleiros enquanto caminhava para o trabalho, na manhã da quarta-feira, (12/6).

“Dois pistoleiros o tocaiaram enquanto ele passava perto de um córrego. O pai dele está muito triste e revoltado. Eu também (...) é muito doloroso ver parentes morrer”, explica o cacique Nicolau Guarani Kaiowá. A Polícia Civil esteve no local para perícia, o delegado Rinaldo Gomes Moreira pediu abertura de inquérito e o corpo de Celso foi encaminhado ao IML (Instituto Médico Legal) de Ponta Porã.
O delegado adiantou que os depoimentos já prestados pelo pai e pela irmão da vítima sugerem que o crime não é resultado dos conflitos por terras, que, somente no último mês, já deixaram um índio morto e outro gravemente ferido no estado.

Celso Figueiredo foi morto com ao menos dois tiros, enquanto caminhava da aldeia guarani-kaiowá Paraguaçu onde vivia até uma fazenda localizada próxima aos limites entre as cidades de Paranhos e Sete Quedas, próximo à fronteira com o Paraguai. O delegado garantiu à Agência Brasil, no entanto, que a polícia vai investigar todas as hipóteses possíveis para esclarecer o crime. Ele não divulgou nome do suspeito do assassinato, que está sendo procurado.

A região de Paranhos, sul do estado, é foco de conflitos entre indígenas e fazendeiros que mantêm terras em áreas de ocupação tradicional Guarani.  “Parece ser uma hipótese, digamos, mais remota [a relação com conflito fundiário]. O próprio pai da vítima e a irmã, que têm interesse em ver o caso esclarecido, disseram que a convivência e o acesso à fazenda, por onde os índios costumam passar para ir pescar, é pacífico”, declarou o delegado Rinaldo Gomes Moreira, revelando que, mesmo assim, o capataz da fazenda será ouvido, já que seria ele quem pagaria Figueiredo pelos serviços prestados à propriedade. Ainda segundo o delegado, o dono da fazenda, que ainda não foi contactado, também vai ser ouvido.

No mês de agosto do ano passado, os Guarani Kaiowá retomaram parte do tekoha Arroio Korá, em Paranhos, que se mantinha indevidamente nas mãos de fazendeiros. Durante visita de equipe do MPF (Ministério Público Federal), pistoleiros atiraram contra a comunidade.

Em outras duas ocasiões, os Guarani Kaiowá da Paraguassú foram ameaçados por pistoleiros. No tekoha vivem 127 famílias num espaço de 2.700 hectares homologados. Os indígenas pediram a revisão da demarcação. Técnicos da Funai (Fundação Nacional do Índio) realizaram os estudos e os resultados devem ser publicados no 2º semestre deste ano. “Três fazendas estão dentro do território que reivindicamos. A principal delas é a Califórnia. Mexem com agropecuária. Agora vamos enterrar o parente e seguir na luta”, declara o cacique.

Para a liderança Otoniel Ricardo Guarani Kaiowá, a situação no Mato Grosso do Sul ultrapassou todos os limites de controle do Estado e dos governos. “Os mecanismos de diálogo da Justiça e do Estado como um todo são ineficientes. Já existe até a vontade dos fazendeiros de sair das áreas, mas mortes ainda ocorrem”, diz.    

Dourados: mulher grávida presa
Ainda na quarta-feira, a Polícia Civil de Dourados prendeu cinco indígenas do acampamento Ita’y Ka’agurussu, Terra Indígena Lagoa Rica/Panambi, município de Douradina. Entre os presos está a cacique Isigeninha Hirto, grávida, além dos Guarani Kaiowá Samuel Gonçalves, Sérgio da Silva, Elaine Hilton e João Isnarde.

Ainda não se sabe os detalhes do mandado de prisão expedido no último dia 28 de maio para sete indígenas, mas as prisões têm relação com fato ocorrido no dia 13 de abril, no próprio acampamento. Arnaldo Alves Ferreira, policial militar reformado, invadiu a cavalo a aldeia efetuando seis disparos contra os indígenas, ferindo um na orelha. O policial, porém, foi morto após ser desarmado pela comunidade. O Kaiowá ferido foi preso pela polícia, acusado de homicídio em flagrante e ainda segue preso.

O delegado Marcelo Damaceno, que preside o inquérito, notificou a Funai a apresentar os indígenas no último dia 6 de junho. Por conta da Marcha Indígena, Quilombola e Camponesa, que chegou à capital Campo Grande no mesmo dia, a apresentação dos indígenas ficou para quarta-feira. Dos sete indígenas nominados no mandado de prisão, apenas cinco compareceram ao distrito policial.
O advogado informa que os presos foram recolhidos para a Cadeia Pública de Dourados. “Estamos avaliando qual a medida a ser tomada, precisamos ver o inquérito. Agora eu acompanho o caso desde o início e não há circunstâncias para fundamentar as prisões, conforme diz o artigo 312 (Código Penal). O que está lá juntado não é suficiente para decretar a prisão”, defende.
Otoniel Guarani Kaiowá é enfático e adianta qual será a forma do povo protestar: “Enganaram eles, mentiram. Chamaram para depor e prenderam. Todo mundo está revoltado e vamos fazer retomadas. Não dá mais para aceitar isso. Os Ñanderu (pajé/xamã) decidiram e está decidido. Vamos buscar nossos direitos”.

Fonte: Última Instância

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