"A gente também tinha problemas como esse em 2010 [ano em que a África do Sul sediou o Mundial]. Não tivemos nenhum grande protesto como esse, com cem mil pessoas na rua, mas a reclamação do povo era a mesma. Construíram estádios enormes, muito dinheiro sumiu antes deles ficarem prontos, e nada foi feito em benefício do povo", disse Jelley, que chegou ao Brasil há seis meses para dar aulas de inglês a funcionários de uma grande empresa de petróleo.
De acordo com a sul-africana, natural da cidade de Pretoria, a passagem de ônibus no país que sediou a Copa do Mundo de 2010 também é cara --ela, porém, não soube especificar o valor. Algumas obras de mobilidade urbana, tais como um trem que faz a conexão das cidades com os aeroportos, chegaram a sair do papel. "Mas aquilo não era para o povo. Era para os turistas. O povo mesmo não foi beneficiado", declarou."Assim como no Brasil, a mídia também fiscalizava muito. Os protestos eram pequenos, mas também existia a sensação de que o povo estava sendo enganado. Eu dou todo apoio ao povo brasileiro que foi às ruas, mas não concordo com o vandalismo", completou Jelley.
O cenário de destruição no quarteirão da Alerj também atraiu turistas brasileiros que estão de passagem pelo Rio. O pernambucano Ademir Pereira da Silva, 28, afirmou ter acompanhado o protesto de ontem pela televisão, e diz que sentiu orgulho com o espírito de cidadania dos cariocas. Ele espera que o mesmo ocorra em breve em Recife, já que a capital pernambucana também é uma das cidades-sedes da Copa do Mundo de 2014.
"Os cariocas deram um exemplo de como se constrói a cidadania. A gente só tem a lamentar pelo vandalismo, mas o que aconteceu não representa nem 10% do que foi o protesto de ontem. Torço para que aconteça o mesmo em Recife. O povo precisa ir para a rua", afirmou.
Índio faz ritual em frente à Alerj
Um índio da tribo Ashaninka, identificado apenas como Ash, chamou a atenção dos populares que se aglomeram em frente às escadarias da Alerj ao realizar um ritual que, segundo ele, representa a "defesa da Pachamama" --termo indígena que significa "mãe natureza".
Ash é um dos índios que ocupavam a Aldeia Maracanã, no antigo prédio do Museu do Índio, ao lado do estádio do Maracanã, na zona norte da cidade.
Segundo Ash, o ritual se chama "profecia de Wiracocha", e é comumente feito pelos membros da tribo Ashaninka. Os sete policiais da Tropa de Choque da PM que reforçam a segurança no local acompanhavam a celebração sem esboçar qualquer tipo de reação."Apanhei muito da Tropa de Choque e fui preso em duas manifestações da Aldeia Maracanã. O Cabral conseguiu nos tirar de lá. Mas estou aqui de novo para denunciar a violência sofrida pelo povo indígena", afirmou.
Além de Ash, há pelo menos dez manifestantes que continuam nas escadarias da Alerj. Eles exibem cartazes com mensagens contra o vandalismo e repudiando o aumento da tarifa de ônibus.
Fonte: UOL
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