sábado, 22 de junho de 2013

"Das Redes Sociais ao Clamor no Asfalto" - Des. Brandão de Carvalho

Semana passada escrevemos com premonição o que iria acontecer quando tratávamos da lassidão das Leis Penais Brasileiras, que este gigante adormecido chamado Brasil poderia a qualquer momento mover seus tentáculos e fazer acordar as nossas autoridades da letargia profunda e insensibilidade desmedida na ausência de soluções dos problemas primários que afetam a nossa população ávida por saúde, segurança, alimentação, habitação, justiça social, manejo honesto do dinheiro público, emprego para a juventude, educação, etc.

Eis que de forma inopinada, o país se agiganta tal qual um vulcão expelindo suas larvas com erupções em todos os cantos do país, onde a juventude, idosos, pessoas de todas as classes, protestam não tão somente no pretexto dos aumentos das passagens de ônibus, mas se contrapondo a todo tipo de engodo ou facilidades no manuseio das verbas públicas, fruto do suor de cada brasileiro, consubstanciada em nossos impostos os mais escorchantes do mundo e mal aplicados sem retorno ao que deveria ser nosso bem estar social.

Hoje as redes sociais em suas variadas facetas são capazes de reunir milhares de pessoas como um toque de mágica, fazer mudar concepções políticas, econômicas e sociais; transformar regimes, exterminar ditaduras, fazer valer o primado da Democracia na sua mais lídima expressão de governo popular. Segundo a FOLHA, 81% dos inquiridos souberam da manifestação pela rede social e 55% pesquisaram a informação pela internet, atestando a força arrasadora dos movimentos virtuais. Aqui em nosso país, vejo que estes movimentos desejam tão somente aprimorar a democracia em que vivemos em toda sua amplitude, extirpando a corrupção em todos os níveis de governo, o que aliás, tem sido o ralo em que nosso dinheiro adentra sem que chegue até as nossas necessidades mais prementes.

Os movimentos pelo que se constata não tem característica política, porquanto 84% inquiridos não tem preferência por qualquer partido político; 75% participaram pela primeira vez nestes protestos e 53% têm menos de 25 anos de idade. 22% entre os manifestantes quando representam apenas 5% da população brasileira é de pessoas com ensino superior, 77% dos que protestam quando são apenas 22% da população.

Não há duvidas que o Congresso Nacional (Câmara e Senado), Assembleias Legislativas, Câmaras Municipais, governadores e prefeitos, a partir de agora, mais do que nunca, devem procurar o estrito caminho da real representação política, atendendo aos anseios verdadeiros da população brasileira, se contrapondo a vontade quase que absoluta do Executivo em qualquer dos seus níveis, que fazem de nossa representação política casas simplesmente homologatórias das imposições do Executivo.

De qualquer forma, vamos externar o nosso gáudio em relação as reações das autoridades brasileiras que unânimes aprovaram as manifestações ordeiras e pacíficas dos nossos jovens manifestantes, que desejam um país justo e cheio de oportunidades em todos os segmentos, que o governo repense suas estratégias, modifiquem suas politicas que não atuam em benefício da população, pois os protestos também refletem profundas frustrações sobre como o dinheiro público é usado e sobre a qualidade dos serviços, principalmente o transporte público, a saúde, segurança. As preocupações mais amplas com a inflação ajudam a mobilizar manifestantes. O movimento também espelha uma pesquisa recente que mostra o Governo Dilma Roussef experimentado a maior queda em popularidade desde sua posse.

O certo é que desde a derrocada do Presidente Fernando Collor de Melo não se viu neste país uma manifestação de dimensões tão grandiosas, somando um número de mais ou menos 300.000 pessoas de norte ao sul desta imensa pátria.

Ao nosso ver, tenho que infelizmente reconhecer a violência da polícia, extrapolando os limites da tolerância nas primeiras manifestações, levando os contrários ao ódio, vingança, vias de fato, perda de controle psicológico em momento de tensão coletiva, que traz exasperação incontida, destruição do patrimônio público, vandalismo, vítimas de lesões, às vezes até a morte, fatos reprováveis numa democracia construída com sangue, suor e lágrimas por muitos brasileiros que tombaram em solo pátrio para que herdássemos um Brasil que temos hoje! Vejo ao término deste artigo, que tudo se reiniciou novamente agora, a Prefeitura de São Paulo é tomada por mais de 80.000 manifestantes cenas pacíficas, mas indivíduos aproveitadores infiltrados depredaram inicialmente o Prédio, praticaram atos de vandalismo e o ambiente se tornou uma praça de guerra alargando-se novamente pelo Brasil afora.

Em Londres, na Embaixada Brasileira, como em outros países, Itália, Espanha, Austrália, Estados Unidos, Alemanha etc., muitos patrícios protestam pela situação de corrupção no país. Os movimentos explodem novamente por todo o Brasil num protesto nunca visto na história republicana dos tempos modernos. Que os governantes ponham as barbas de molho, vejam que mudanças devem ser tomadas urgentemente para que a confiabilidade possa voltar à classe política e aos mandatários da nação que nosso povo possa viver feliz e orgulhosos de seus governantes.



Desembargador LUIZ GONZAGA BRANDÃO DE CARVALHO

Decano e Presidente da Academia de Letras da Magistratura Piauiense
Fernando Castelo Branco

Fonte: O Autor

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