quinta-feira, 20 de junho de 2013

No Brasil, nasce um movimento social à margem de partidos políticos

Os cientistas chamam isso de "efeito borboleta". Para os dirigentes brasileiros, a dimensão do descontentamento contínuo do povo prefigura um risco de divórcio de parte da população com os partidos políticos tradicionais. A um ano das eleições presidenciais, isso constitui um verdadeiro pesadelo, diante da imprevisibilidade de seu desenrolar.

O movimento de protesto social que tomou conta do país encontrou seu ímpeto no cerne de uma pequena rede de militantes – algumas dezenas de pessoas - , muito jovens e urbanos em sua maioria, que dizem não ter ligação com nenhum partido político. Esse Movimento Passe Livre (MPL), que defende o princípio da gratuidade do transporte público, foi o principal instigador das manifestações de São Paulo. Estas se seguiram ao anúncio feito pelo prefeito Fernando Haddad do Partido dos Trabalhadores (PT, esquerda no poder), no dia 2 de junho, do aumento do preço da tarifa de ônibus.
O MPL começou com uma revolta popular ocorrida em 2003 em Salvador, na Bahia. Durante dez dias, milhares de habitantes bloquearam as ruas para protestar contra um aumento no preço dos transportes. O acontecimento teve repercussão nacional. Foi realizado um documentário, "A Revolta do Buzu", que veio dar seu nome ao movimento.
No ano seguinte, foi um grupo de Florianópolis que se inspirou na experiência de Salvador. Distanciando-se dos partidos políticos e movimentos estudantis, ele se aproximou das associações de bairros, professores, marginais e autônomos. E impediu o aumento das tarifas.
Em 2005, o movimento tomou forma no Fórum Social Mundial de Porto Alegre. Ele adotou então o princípio da gratuidade dos transportes. A organização é heterogênea em sua composição. "Certos membros flertam com o marxismo e os movimentos anarquistas", explica o site alternativo Outras Palavras. O MPL se diz independente, horizontal (uma voz, um voto, sem líder) e sem afiliação política. Muito rapidamente, ele está se firmando em cerca de quinze cidades.
No início do ano, quando Porto Alegre decidiu aumentar o preço do ônibus, as manifestações fizeram as autoridades voltar atrás. O movimento se estendeu até Natal, uma cidade do Nordeste, onde a mesma reforma está em andamento. Mas foi a partir de São Paulo, a megalópole do sudeste, capital econômica do país, a mais rica do subcontinente, que a onda de choque se propagou para todo o território.
Primeiro por causa da seriedade das reivindicações, acredita Lucas Monteiro de Oliveira, professor de história e membro ativo do MPL. "Temos um histórico de oito anos de experiência e debates", explicou ele na TV Cultura. "Com 20 centavos de aumento, sabemos que certos trabalhadores gastarão 31% de seu salário na condução. Até economistas de renome estão nos apoiando agora. Até pouco tempo atrás, as pessoas achavam que éramos loucos".
Segundo, porque o "fruto está maduro", ressalta Carlos Vainer. Professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro, ele explica: "Os movimentos de resistência e de oposição existem há muito tempo, de maneira pouco visível; claro, por causa da cortina de fumaça instalada pela mídia, mas eles estão lá, com sua competência."
Urbanista e observador crítico das grandes obras em andamento no Brasil, ele diz ter notado uma convergência desses grupos militantes desde o lançamento das atividades ligadas à Copa de 2014. "Um pouco por acaso, a história quis que o estopim fosse provocado pelo MPL. A arrogância e a repressão das autoridades fizeram o resto, unindo todos esses movimentos".
Organizados, eficientes, ativos nas redes sociais e evitando cuidadosamente qualquer apropriação, os membros do MPL se mantêm firmes sobre a recusa ao aumento das tarifas, que foi a base do protesto. "Essa temática atinge todas as contingências da vida diária", observa Ricardo Antunes, sociólogo na Universidade de Campinas. "Ela permitiu que se revelasse o fosso que separa o simples cidadão de seus governantes. Um pouco como se a chegada do PT ao poder em 2003 houvesse gestado uma década de letargia, uma letargia que acabou repentinamente." E diz: "O descontentamento era compensado por uma ligeira melhoria nos salários e no emprego. Hoje, essa pequena classe média que está sobrevivendo com R$ 1.000 a R$ 1.500 quer mais. Por ela e sua dignidade".
Cerca de 50 mil pessoas protestaram novamente na terça-feira (18), em São Paulo. Também houve marchas em cerca de trinta cidades. Pela manhã, a presidente Dilma Rousseff prometeu que ouviria atentamente as aspirações dos manifestantes. Mais tarde houve uma reunião com o ex-presidente Lula, da qual também teria participado Fernando Haddad, segundo o site da "Folha de São Paulo". Pouco antes, o ministro da secretaria-geral da presidência Gilberto Carvalho havia admitido que o governo "ainda não tinha conseguido entender as razões do movimento".
Tradução: UOL
  • Carro de TV Record é incendiado em frente à Prefeitura de São Paulo durante protestos
  • Manifestante corre ao lado de estabelecimento comercial em chamas no centro de São Paulo
  • PM espirra spray de pimenta em manifestante durante protesto no Rio
  • Em Brasília, manifestantes conseguiram invadir a área externa do Congresso Nacional
  • Milhares de manifestantes tomam a avenida Faria Lima, em SP
  • Após protesto calmo em SP, grupo tenta invadir o Palácio dos Bandeirantes, sede do governo
  • Manifestantes tentam invadir o Palácio Tiradentes, sede da Assembleia Legislativa do Rio
  • Um carro que estava estacionado em uma rua do centro do Rio foi virado e incendiado
  • Cláudia Romualdo, comandante do policiamento de Belo Horizonte, posa com manifestante.



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