terça-feira, 24 de setembro de 2019

Juízes deixam a toga e trabalham como garis e faxineiros por um dia

Do gabinete do fórum para o hospital municipal Souza Aguiar no Rio de Janeiro. O caminho feito pelo juiz do Trabalho Roberto Fragale não foi por motivo de saúde. A razão, na verdade, foi por motivo de muito trabalho: por um dia, deixou as atribuições da magistratura para trabalhar como gari na limpeza hospitalar.
“Na rotina hospitalar, tornei-me invisível para médicos e enfermeiros, que sequer nos davam bom dia”.
Fragale foi um dos doze magistrados que participou do projeto “Vivendo o trabalho subalterno”, organizado pela Escola Judicial TRT da 1ª região.
Subalterno?
Magistrados da JT/RJ vivenciam por um dia o trabalho subalterno de garis, faxineiros, copeiros, cobradores de ônibus, operadores de caixa, entre outros. O projeto é realizado desde 2017 e está em sua terceira edição.
De acordo com o desembargador Marcelo Augusto Souto de Oliveira, diretor da Escola Judicial, a adoção da palavra “subalterno” para batizar o projeto se explica pelo fato de ser este um termo oriundo no campo da psicologia social, o qual designa pessoas que trabalham com pouca demanda intelectual e que, de modo geral, possuem pouca instrução e recebem baixíssima remuneração.
“São trabalhadores que foram ‘subalternizados’ pela sociedade, não que eles sejam assim, mas eles são tratados dessa forma pela sociedade e pelo sistema de produção.”
Para a vivência, é realizado um treinamento prévio nas empresas. A identidade dos magistrados não é revelada aos demais empregados até o final da experiência. O objetivo é oferecer aos juízes conteúdos que os preparem para as complexidades vivenciadas em seu cotidiano de trabalho e que os capacitem para o relacionamento com aqueles para os quais oferecem a prestação jurisdicional.
Gari, cobrador de ônibus, ajudante de caminhão...
A experiência de Roberto Fragale como gari hospitalar foi em 2017, na primeira edição. Desde então, o magistrado já atuou em outras diversas profissões. Foi gari de praia, ajudante de caminhão, auxiliar de limpeza na Fiocruz e, mais recentemente, cobrador de ônibus. Além de participante, ele é coordenador da iniciativa.
O juiz faz um balanço positivo de cada uma das experiências:
“Me proporcionou a chance de conhecer gente, encontrar pessoas batalhadoras que fazem da luta cotidiana uma tentativa de sobrevivência. Serviços de limpezas não são tão simples, não são fáceis. Em todas essas profissões o que eu pude aprender, sem dúvida, aprender é que nada se aprende em um dia.”
Fragale diz que um dos principais impactos da experiência na formação dos magistrados é a comunicação a partir de um lugar de fala diferente: “Talvez seja pouco para um mero dia de trabalho subalterno e braçal, mas já é um largo passo para que juízes possam lançar sobre sua prática profissional um olhar diferenciado, um olhar enriquecedor de sua constituição como mais um Outro na sociedade”.
Fonte: Migalhas 




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