segunda-feira, 20 de fevereiro de 2017

Ex-alunas da USP criam escritório de advocacia voltado para mulheres



De acordo com o Mapa da Violência divulgado em 2012, duas em cada três pessoas atendidas no SUS em consequência de violência doméstica ou sexual são mulheres. A reincidência nos atendimentos é bastante elevada, principalmente a partir dos 30 anos, quando passa da metade dos casos. Ainda segundo o levantamento, mais de 70% das situações de violência ocorreram no ambiente doméstico.

O dossiê organizado pela Agência Patrícia Galvão informa que, a cada dois minutos, cinco mulheres são espancadas; a cada 11 minutos, uma mulher é estuprada; e, a cada dia, 179 mulheres fazem denúncias de agressão.

Com dados tão alarmantes e o desejo de fazer a diferença na luta pela igualdade de gênero, a dupla de ex-alunas da Faculdade de Direito (FD) da USP, Ana Paula Braga e Marina Ruzzi, decidiu abrir um escritório de advocacia voltado para o atendimento e acolhimento de mulheres que sofreram, ou sofrem ainda, qualquer tipo de violência.

A advogada Ana Paula destaca que a prioridade é atender mulheres e causas que envolvam alguma questão de gênero. “É claro que atenderemos homens em caso de necessidade, contanto que não seja um agressor, por exemplo”, observa.

O trabalho das advogadas envolve, principalmente, casos de violência doméstica, violência sexual, direito de família, pensão alimentícia e direito trabalhista. “As mulheres encontram muita dificuldade para se defender. O direito no Brasil é muito machista, foi criado pelos homens e para os homens. Por mais que pela lei exista igualdade, na prática não vemos isso, e o direito reflete a sociedade. Tentamos de todas as formas encontrar saídas dentro da lei para promover essa igualdade”, explica Ana Paula.

Segundo as advogadas, existe ainda um grande despreparo das autoridades competentes sobre como lidar com a temática da violência contra a mulher. Falta às mulheres vitimizadas um bom acolhimento e, em alguns casos, elas ainda são culpabilizadas e questionadas do “porquê estarem no lugar errado”, “o porquê da roupa inadequada”, entre outras justificativas, afirmam.
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Sem importância
 
A dupla de advogadas lembra o caso de uma cliente que sofreu estupro coletivo por moradores de rua e permaneceu durante cinco horas na delegacia, esperando para ser atendida e poder, finalmente, ir ao hospital. “Mesmo em delegacias especializadas no atendimento a mulheres o problema ainda é tratado como um fato menor, sem muita importância”, observam.

Outra experiência que mostra o despreparo das autoridades é o caso de uma menina agredida fisicamente pelo pai. A delegada responsável não sabia que a Lei Maria da Penha poderia ser aplicada em situações de violência familiar e que se tratava apenas de maus tratos. Marina lembra que essa situação muda completamente se a vítima for à delegacia assistida por um advogado.

As advogadas acreditam que o fato de serem mulheres representa um diferencial no atendimento. “Elas sabem que vamos nos identificar com sua causa, que vamos tratar com a importância devida e termos atitudes propositivas”, explica a dupla.

O escritório de advocacia Braga & Ruzzi – Sociedade de Advogadas foi aberto recentemente, mas Marina Ruzzi afirma já se sentir realizada com sua profissão. Ela relata que nem mesmo queria ser advogada quando começou o curso de Direito. “Poder trabalhar com advocacia com minha militância feminista está sendo um sonho. Sinto que tudo o que faço é importante, faço a diferença, trabalho todos os dias feliz”, comenta.

Ana Paula Braga também está satisfeita com sua escolha. “Estamos mudando a vida dessas mulheres, dando-lhes esperança. É incrível se sentir útil em um momento tão difícil e doloroso para uma vítima da violência”, declara.

Fonte: Jornal da USP 


 
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