De acordo com o Mapa da Violência divulgado em 2012, duas
em cada três pessoas atendidas no SUS em consequência de violência
doméstica ou sexual são mulheres. A reincidência nos atendimentos é
bastante elevada, principalmente a partir dos 30 anos, quando passa da
metade dos casos. Ainda segundo o levantamento, mais de 70% das
situações de violência ocorreram no ambiente doméstico.
O dossiê organizado pela Agência Patrícia Galvão informa que, a
cada dois minutos, cinco mulheres são espancadas; a cada 11 minutos,
uma mulher é estuprada; e, a cada dia, 179 mulheres fazem denúncias de
agressão.
Com dados tão alarmantes e o desejo de fazer a diferença na luta
pela igualdade de gênero, a dupla de ex-alunas da Faculdade de Direito
(FD) da USP, Ana Paula Braga e Marina Ruzzi, decidiu abrir um escritório
de advocacia voltado para o atendimento e acolhimento de mulheres que
sofreram, ou sofrem ainda, qualquer tipo de violência.
A advogada Ana Paula destaca que a prioridade é atender mulheres e
causas que envolvam alguma questão de gênero. “É claro que atenderemos
homens em caso de necessidade, contanto que não seja um agressor, por
exemplo”, observa.
O trabalho das advogadas envolve, principalmente, casos de violência
doméstica, violência sexual, direito de família, pensão
alimentícia e direito trabalhista. “As mulheres encontram muita
dificuldade para se defender. O direito no Brasil é muito machista, foi
criado pelos homens e para os homens. Por mais que pela lei exista
igualdade, na prática não vemos isso, e o direito reflete a sociedade.
Tentamos de todas as formas encontrar saídas dentro da lei para promover
essa igualdade”, explica Ana Paula.
Segundo as advogadas, existe ainda um
grande despreparo das autoridades competentes sobre como lidar com a
temática da violência contra a mulher. Falta às mulheres vitimizadas um bom acolhimento e, em alguns casos, elas ainda são culpabilizadas e questionadas do “porquê estarem no lugar errado”, “o porquê da roupa inadequada”, entre outras justificativas, afirmam.
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Sem importância
A dupla de advogadas lembra o caso de
uma cliente que sofreu estupro coletivo por moradores de rua e
permaneceu durante cinco horas na delegacia, esperando para ser atendida
e poder, finalmente, ir ao hospital. “Mesmo em delegacias
especializadas no atendimento a mulheres o problema ainda é tratado como
um fato menor, sem muita importância”, observam.
Outra experiência que mostra o despreparo das autoridades é o caso de
uma menina agredida fisicamente pelo pai. A delegada responsável
não sabia que a Lei Maria da Penha poderia ser aplicada em situações de
violência familiar e que se tratava apenas de maus tratos. Marina lembra
que essa situação muda completamente se a vítima for à delegacia
assistida por um advogado.
As advogadas acreditam que o fato de serem mulheres representa um
diferencial no atendimento. “Elas sabem que vamos nos identificar com
sua causa, que vamos tratar com a importância devida e termos atitudes
propositivas”, explica a dupla.
O escritório de advocacia Braga & Ruzzi – Sociedade de Advogadas
foi aberto recentemente, mas Marina Ruzzi afirma já se sentir realizada
com sua profissão. Ela relata que nem mesmo queria ser advogada quando
começou o curso de Direito. “Poder trabalhar com advocacia com minha
militância feminista está sendo um sonho. Sinto que tudo o que faço é
importante, faço a diferença, trabalho todos os dias feliz”, comenta.
Ana Paula Braga também está satisfeita com sua escolha. “Estamos
mudando a vida dessas mulheres, dando-lhes esperança. É incrível se
sentir útil em um momento tão difícil e doloroso para uma vítima da
violência”, declara.
Fonte: Jornal da USP
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