Era para
ser um projeto simples, criado exclusivamente para auxiliar acadêmicos
de Direito a ter contato com práticas jurídicas, mas tomou tal proporção
que, em quatro meses de lançamento, ultrapassou fronteiras e está sendo
utilizado por pessoas de todo o país.
Autor
do projeto Audiências Online, o juiz José de Andrade Neto, da 12ª Vara
Cível de Campo Grande, não esconde o espanto e a satisfação de saber que
uma proposta despretensiosa foi aceita e reconhecida por tanta gente,
nos diferentes estados brasileiros.
"A
universidade exige que os alunos assistam a um determinado número de
audiências, para que possam vivenciar a prática das carreiras jurídicas.
Então percebi que próximo da data em que os acadêmicos deveriam
entregar na universidade o comprovante de que efetivamente assistiram
audiências, o fórum ficava lotado. Sempre um grande alvoroço, com
acadêmicos desesperados procurando audiências para assistir. Como
trabalhava há algum tempo com Educação a Distância, pensei: por que não
levar os benefícios e vantagens da EAD para a sala de audiências? E deu
certo", conta.
Para se ter uma ideia da
velocidade da expansão do Projeto Audiências Online, são mais de sete
mil e trezentos inscritos nos quatro meses de existência do projeto,
contando com alunos cadastrados de todos os Estados da federação e
também do Distrito Federal, de universidades públicas e privadas. Com
essa realidade, não é de se espantar que toda semana o juiz receba
ligação de universidades em busca de parceria.
Apesar
de a ideia ter nascido com a finalidade de auxiliar os acadêmicos de
Direito, o criador do projeto vem tendo uma grata surpresa: a cada dia o
site tem recebido inúmeras inscrições de profissionais já formados, em
especial de novos advogados em busca de adquirir maior experiência
prática.
“Um dos maiores medos do profissional
do direito, quando se forma, é ter que fazer sua primeira audiência. É
natural que ele fique um tanto quanto inseguro sobre o que pode
acontecer no ato e ele não quer demonstrar essa insegurança para o seu
cliente e tampouco para o juiz e o advogado da parte contrária. Isso
explica porque o projeto Audiências Online tem sido muito útil, também,
para profissionais em começo de carreira. Lá eles têm a oportunidade de
ver o comportamento de profissionais mais experientes que atuam nas
audiências e, com isso, acabam extraindo muito aprendizado prático e
ganhando confiança para a sua atuação profissional”, revela o juiz José
de Andrade.
Mas o que mais emocionou o juiz
José de Andrade foi um vídeo, publicado no youtube, de um estudante de
Belém (PA) que sofreu um acidente e perdeu totalmente a visão. Ele conta
que conheceu o projeto inovador em um grupo de alunos em sua
Universidade, que conseguiu assistir as audiências, ter acesso às peças
do processo e imprimir o seu certificado de participação, tudo sem
precisar contar com a ajuda de ninguém em todas as etapas. Ao final do
vídeo, o acadêmico agradece imensamente pela criação do projeto e dá uma
salva de palma ao seu idealizador.
“Nunca
imaginei isso. A acessibilidade do site tornou possível a este
universitário com deficiência visual ser completamente independente,
provando que o Audiências Online é uma ferramenta de aprendizagem
fantástica. Os resultados são, sem dúvidas, uma grata surpresa”,
confessa.
E não é só isso: sozinho, diariamente
o juiz responde os questionamentos enviados para o site e comenta
questões jurídicas no perfil do facebook, mantendo total interatividade
com os estudantes.
“Entro todo dia, em meus
horários de folga, na tentativa de atender a todos os questionamentos, e
percebo como isso é importante, porque sempre faz diferença na vida de
alguém. Quem não conhece o projeto, não é capaz de imaginar o ganho de
aprendizado que ele tem proporcionado aos estudantes e também a mim. A
cada audiência nova que é disponibilizada no site, faço um resumo do
caso, apontando aquilo que o acadêmico pode aprender naquela audiência, e
disponibilizo um vídeo no face: tudo para facilitar para os
acadêmicos”, acrescentou.
Como um dos objetivos
do projeto é tornar as ações do Poder Judiciário mais transparentes e
acessíveis à população, a proposta de apoio ao ensino universitário é
totalmente gratuita e confere certificado de participação ao acadêmico,
permitindo que o mesmo apresente na universidade e cumpra as metas que
lhe são exigidas.
A intenção é permitir que o
acadêmico de direito ou o profissional em busca de mais experiência
possa assistir audiências judiciais reais de onde estiver, no momento
que lhe for mais oportuno.
Como funciona – Depois de se cadastrar no site
www.audienciasonline.com.br, o acadêmico recebe em seu e-mail um login e senha para acessar o Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA).
No
ambiente virtual poderá escolher o tipo de audiência que deseja
assistir (cível, criminal ou Júri Popular) e de pronto começar a ver os
vídeos das audiências.
Importante ressaltar
que, além de assistir a uma audiência real, o universitário pode ter
acesso às principais peças que compõem o processo da audiência
respectiva, o que facilita a compreensão do que acontece na audiência.
Assistida
a audiência, o acadêmico deve se submeter a uma pequena avaliação, com
cinco perguntas, para provar que efetivamente assistiu a audiência e
entendeu todo o ocorrido. Caso acerte ao menos quatro das cinco questões
propostas, o sistema autoriza a emissão do certificado e o acadêmico
pode encaminhar o comprovante para a sua universidade.
Certificados e aceitação – Os certificados
emitidos pela participação em audiências conferem ao acadêmico duas
horas de atividade complementar, enquanto que o certificado emitido pela
participação em um Júri Popular confere cinco horas/atividade.
Embora
cada universidade tenha autonomia para decidir sobre as atividades que
aceita como comprovação de prática jurídica, o criador do Projeto
Audiências Online tem feito uma feliz constatação: o certificado emitido
pelo projeto tem sido aceito por praticamente todas as universidades
brasileiras, públicas e privadas, especialmente por aquelas que
realmente se preocupam em proporcionar melhores ferramentas de ensino
aos seus estudantes.
E isso tem ocorrido
porque os coordenadores dos cursos de direito de todo o Brasil têm
constatado que assistir a audiência online traz um ganho de conhecimento
ao acadêmico, muito maior do que o obtido quando ele assiste uma
audiência presencial. Na audiência presencial, o acadêmico assiste o ato
sem ter tido acesso prévio às peças do processo, sem saber do que se
trata o ato.
Por isso, na maioria das vezes
acaba ficando perdido, sem saber ao certo o que está acontecendo. Já na
audiência online, antes de assistir ao vídeo da audiência, o acadêmico
pode ler as principais peças do processo, entender todo o ocorrido e,
com isso, acaba compreendendo muito mais facilmente o que se passa no
ato.
"E tem mais: em nosso projeto, estimulo
os acadêmicos a tirarem todas as dúvidas que tiverem sobre a audiência
que estão assistindo, por meio da postagem de perguntas nos fóruns de
discussão, e faço questão de responder diariamente todos os
questionamentos feitos, o que é impossível de se imaginar em uma
audiência presencial, em razão da pauta normalmente lotada que impede os
magistrados de darem maior atenção aos acadêmicos presentes”, completa o
Juiz José de Andrade.
Para o ano de 2017, o
criador do Projeto Audiências Online pretende ampliar ainda mais o leque
de oportunidades de aprendizado. “Pretendo disponibilizar aos
acadêmicos e profissionais em busca de experiência a oportunidade de
assistirem “audiências trabalhistas”, “sessões de julgamento do Tribunal
de Justiça”, “audiências de custódia” e muito mais”, afirma José de
Andrade, que diz depender da realização de algumas parcerias, para que
as promessas possam se tornar realidade.
Por
fim, o juiz faz questão de registrar: “Não poderia deixar de agradecer
aos juízes Alessandro Carlo Meliso Rodrigues, Mário José Esbalqueiro
Júnior, Olivar Augusto Roberti Coneglian e Roberto Ferreira Filho pelo
apoio que tem dado ao nosso projeto, com a gravação de audiências cíveis
e criminais, e ao Tribunal de Justiça de MS, que me concedeu
autorização para desenvolver este Projeto”.
Autor da notícia: Secretaria de Comunicação - imprensa@tjms.jus.br